O Pequeno Príncipe e a Cobra
Eu tenho 16 anos. Tinha. Estou morta. Enforquei-me no banheiro da casa dos meus pais. Escrevo aqui através dos dedos de minha mãe. Eu nunca escrevi bem, deu-me um trabalho grande minha carta de despedida que reescrevi muitas vezes e, mesmo assim, sei que ficaram erros perdidos em algumas linhas. Esperei que o coração de minha mãe se acalmasse um pouco, então pedi a ela que me emprestasse seu dom uma vez para que eu dissesse a todos vocês que choraram e choram, que se assustaram, que ficaram perplexos, que perderam o chão: morrer é um direito de quem nasce. Viver não é obrigatório. Viver não é para compreender, é para ser bom. E para ser suficientemente bom, em algum lugar tem que bastar estar vivo. Sem enfeites, penduricalhos, sem fazer nada, sem ter nada... Tirar tudo de cima, mergulhar no vazio, na solidão, no possível e encontrar o prazer de viver, de estar conectado. Quem fica é porque encontra. Morrer também não é para compreender. Muitas teorias sobre minha morte vão caber e nenh...
Amo as curiosidades desses bichinhos descobrindo o mundo.
ResponderExcluirbelo texto, Nannushka!
Beijo
Roberto, um amigo perdeu seu filho domingo. Fiquei sem dormir pensendo em sua agonia. Lembrei que tenho uma aluna que sofre diariamente por ter um filho com cancer. Leva uma vida do cão entre hospitais, dores, tecidos e vidas em confusão. Pensei na dor do Roberto e tenho certeza que ele gostaria de estar no lugar da Angela, de sofrer todo dia mas ter seu filho ainda vivo. Mais: se pudesse sei que ele trocaria de lugar com seu filho para não vê-lo sofrer. Normal, né? Os pais são assim. Dariam sua vida pelo filho.
ResponderExcluirEntão pensei, que espécie de animal é esse, que é capaz de dar a vida pelo outro, que é capaz de outras grandes atitudes como essa? Esse animal é o Homem, que difere dos outros animais por ser capaz de criar um Deus à sua imagem e semelhança, um Deus que representa tudo de bom que esse animal já pode ser.
Esse tema sempre me absorveu, visto que quando criança fiz a mesma pergunta de sua filha, minha mãe respondeu: "Que pergunta é essa menina, tenho tantos anos e nunca tive essa dúvida. No momento ela conseguiu encerrar meu questionamento, mas sempre venho lendo e estudando a respeito. Depois de me casar com um agnóstico passei a pensar mais ainda... Outro dia, conversando com o Hebinho obtive uma resposta bastante plausível: "Se chegarmos muito perto da lógica, perdemos um pouco de nossa fé e inocência. Se o homem habita a terra a tanto tempo e sempre teve a intuição divina porque devemos duvidar?
ResponderExcluirBelíssimo escrito. Abraço!!!
Há alguns meses escrevi sobre o assunto, mas como o filho que jogou fora no futuro. Doeu um pouco, mas trouxe bastante alívio.
ResponderExcluirhttp://achlo.wordpress.com/2011/03/01/em-nome-do-pai-do-filho-e-do-cetico/
Que eu saiba não sofro muito com a ausência de deus na minha vida, mas talvez eu venha a sofrer por não poder confortar a angústia da minha filha no dia em que ela se tornar humana o bastante para ter auto-consciência da sua existência e, por consequência, do fim dela e das demais existências ao seu redor... eu sempre penso nisso... hoje, que sou mãe, penso muito mais na ausência de deus do que qdo era só eu... medo dessa ausência não ser confortante o suficiente para o meu pedacinho que se torna cada dia menos meu... medo de alberto caeiro não ser resposta o bastante para ela como tem sido há alguns anos para mim...
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