Meio Ovo
Nunca está bom. Sempre falta. Olho cheia de inveja para o jacaré no banco de areia no meio do rio. Plácido. Não falta nada. E quando falta é tão simples, tão reto. Mas eu caí na esparrela de vir ser humano. Um bicho cheio de receitas de ser. Para mim falta tudo. Acordo de manhã precisando beber menos, ganhar mais, encontrar o melhor corte de cabelo, fazer algum curso, meditar, respirar usando o diafragma, ser mais positiva, comer mais ovo, comer menos ovo, comer meio ovo, comer dois ovo, não errar o plural de ovo. Estou sempre errada, inadequada, devendo. Não consigo simplesmente apoiar a barriga no banco de areia e olhar o céu. A barriga que apoio no banco de areia é grande demais, é flácida, é um corpo estranho plasmado no meu abdome, um continente ou conteúdo psicanalítico que não cala e não me deixa em paz. Não sendo um jacaré, preciso evoluir sem descanso: encontrar minhas sombras, desvendar meus traumas, buscar a iluminação mas, claro, com humildade, não muita humildade que pode ...
ai as mães magoadas... a minha sempre se orgulhou muito de que eu fosse um homem! e nesse lugar eu me mantive até me apaixonar por um macho mais macho do que eu, e bem machista, mano de osasco - como ele mesmo se nomeia - com coragem (ou falta de educação feminista-politicamente-correta) suficiente, para me fazer ver que para ganhar na força eu tenho que ser mais forte do que ele... hj sou uma mulher histérica, olhando em pânico para o meu feminino deslocado... mas em tratamento, tratamento de choque... e estou namorando o silêncio, a servidão e os ingredientes da receita de fatia húngara deliciosa da minha avó!
ResponderExcluir(e tenho gostado muito mais de ler os seus textos do que de conversar com as amigas magoadas para tentar legitimar a minha dor, com a falta de igualdade dos sexos que reina - e continuará reinando, se o cosmos permitir - nos lares deste mundo de homens E mulheres!)
A fala é tão verdadeira e inexorável que entra em mim como se tivesse acabado de sair da minha boca. Que verdade absoluta. Que lugar delicioso essa geografia entre biceps, peito e ombro - dos mais gordinhos então nem se fala! Assim como verdade é a decadência dos rótulos de estado civil em relação à presença constante de um na vida. Vou aprendendo aos trancos e barrancos mas vendo que em seus textos ressoa minha experiência o que sempre me relembra o quanto de UM temos todas nós. Beijoca.
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ResponderExcluiresse tonus muscular, essa tensão mínima só pra nos manter em pé, essa brisa das pessoas de cuca fresca. agradeço minhas amigas por me fazer acreditar no giro macio da nuca branca de uma amada. bjs
ResponderExcluirHá de endurecer, mas jamais perder a ternura. rsrsrsrs
ResponderExcluirBjo!