Meio Ovo
Nunca está bom. Sempre falta. Olho cheia de inveja para o jacaré no banco de areia no meio do rio. Plácido. Não falta nada. E quando falta é tão simples, tão reto. Mas eu caí na esparrela de vir ser humano. Um bicho cheio de receitas de ser. Para mim falta tudo. Acordo de manhã precisando beber menos, ganhar mais, encontrar o melhor corte de cabelo, fazer algum curso, meditar, respirar usando o diafragma, ser mais positiva, comer mais ovo, comer menos ovo, comer meio ovo, comer dois ovo, não errar o plural de ovo. Estou sempre errada, inadequada, devendo. Não consigo simplesmente apoiar a barriga no banco de areia e olhar o céu. A barriga que apoio no banco de areia é grande demais, é flácida, é um corpo estranho plasmado no meu abdome, um continente ou conteúdo psicanalítico que não cala e não me deixa em paz. Não sendo um jacaré, preciso evoluir sem descanso: encontrar minhas sombras, desvendar meus traumas, buscar a iluminação mas, claro, com humildade, não muita humildade que pode ...
Céu ou inferno está naquilo que colocamos ou tiramos de nossa realidade monentânea, pois o dia que o móvel for montado, Sylmara ou Maria José poderia ser anjo ou demônio numa central de telemarketing ou num busão lotado voltando para casa, de qualquer maneira será apenas uma história, não existirá mais! Bjs
ResponderExcluirIsto, isto! Vamos colocar menos inferno nas nossas realidades! Beijo.
Excluiràs vezes acho mesmo que vc é genial! como é possível colocar as atendentes de telemarketing e as buscas espirituais num mesmo texto e criar algo tão impactante!?
ResponderExcluiraté entendo porque não consigo acreditar em nada! não posso acreditar em nada que fala de elevação espiritual no mesmo mundo em que existem atendentes de telemarketing! pessoas como eu, cheias de medo, de angústia, de dor, que ainda assim trabalham em prol das estruturas que, no fim das contas, são o que nos fazem cheios de medo, angústia e dor...