Meio Ovo
Nunca está bom. Sempre falta. Olho cheia de inveja para o jacaré no banco de areia no meio do rio. Plácido. Não falta nada. E quando falta é tão simples, tão reto. Mas eu caí na esparrela de vir ser humano. Um bicho cheio de receitas de ser. Para mim falta tudo. Acordo de manhã precisando beber menos, ganhar mais, encontrar o melhor corte de cabelo, fazer algum curso, meditar, respirar usando o diafragma, ser mais positiva, comer mais ovo, comer menos ovo, comer meio ovo, comer dois ovo, não errar o plural de ovo. Estou sempre errada, inadequada, devendo. Não consigo simplesmente apoiar a barriga no banco de areia e olhar o céu. A barriga que apoio no banco de areia é grande demais, é flácida, é um corpo estranho plasmado no meu abdome, um continente ou conteúdo psicanalítico que não cala e não me deixa em paz. Não sendo um jacaré, preciso evoluir sem descanso: encontrar minhas sombras, desvendar meus traumas, buscar a iluminação mas, claro, com humildade, não muita humildade que pode ...
Lindo, Nanna. Saudades. Carlos.
ResponderExcluirsigo teu blog com carinho e interesse. agora não perca mais as oportunidades de dizer que a gente gosta de alguem, antes que ela fique sem saber disto...
ResponderExcluirabraços e força nos renascimentos
Pedro Fontes
Nanna, isso não foi um texto. Foi música de orquestra, arrebatada, em estado, sólido, estado de palavra. Uau! Ouvi toda a força por trás das frases...
ResponderExcluirnascer é muito comprido, como diz o poeta.
Bravo!!
Tenório
Crise de meia-idade. Se ataca os homens aos enta não posso deixar de questionar se a alma da mulher tem a mesma idade cronológica do corpo. Desde os doze tenho pelo menos uma por ano. Curioso é que não morri aos vinte e poucos. Ou talvez eu tenha. Talvez eu morra um pouquinho em cada uma delas. Não reconheço essa moça no espelho mas confesso que simpatizo com ela. Gostei do corte de cabelo. Sempre quis um assim.
ResponderExcluirNanna, seu texto veio complementar o filme "Homens e Deuses" que também me impressionou muito. Arrebatador!
ResponderExcluirAgora quero o renascimento pós Páscoa.
Beijos.
Ernê