Eu e a Rosa

Definitivamente eu não vim entender. Não me interessa, entender. De onde viemos, para onde vamos? Não me interessa. Estou só jogando o jogo. Acordo e jogo porque é tudo que há. O jogo. Mesmo quando questiono, quando desconfio, quando fuço, quando empaco, quando explico... é o jogo sendo jogado. E está bom pra mim que seja assim. Não perdi nada, de fato. Não vou levar nada. Não faço ideia realmente e não saberei realmente o que é. Está dado que funcione assim, seja você o gênio, o iluminado ou o tolo. A ignorância vai estar sempre lá nos convidando a uma realista humildade. E eu preciso mais de beijos na boca do que de algum poder e certezas temporárias. O momento, a experiência, a pele... aqui mora meu divino. Teorias? Só quero os pensadores que brincam de saber. Acordo meio atordoada e desço para o playground trágico da existência. Todos os dias. E vivo com o mínimo de pretensão possível, com o máximo de presença. Sem entender ou explicar porque escovei os dentes, cocei as costas, vesti calça ou saia e fui fazer não sei o quê. Ciente de que caminho criando sentidos para não dissolver-me definitivamente. Dissolvendo-me e reedificando-me continuamente. Sonhando que a dissolução pode ser só um nascimento. Intuindo que toda crença me constrói e me priva de ser milhares de outros eus. Desconfiando de que quanto mais acredito que sei menos as surpresas desconcertantes me visitam. Sabendo o quanto saber pode ser estéril e perigoso quando vem de mãos dadas com o medo. E não me importando mais. Não dando a mínima. Largando tudo pra ver uma rosa absurda que explodiu em pétalas simétricas e perfeitas de uma cor inexplicável na porta da minha casa. Rosa louca que irá murchar e despetalar em uma semana e também não está nem aí.  Porque este é só o jogo e para isso eu e ela viemos. Indo buscar uma foto de rosa para ilustrar este texto, encontrando a imagem perfeita, uma rosa de verdade, a melhor rosa... descobrindo que ela nem existe: foi criada pela inteligência artificial.

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