Viagem
Há dias em que todos os semáforos estão abertos: o carro
flui magicamente. Os outros saem da frente e o mar se abre como se fossemos
Moisés. Nada é pesado demais, nada é longe demais, nada é demais. Os fantasmas
estão distraídos brincando no playground. Se sabem amados. Nada te arrasta, nem
o medo, nem a esperança... porque amanhã não existe. Só esta rua e este destino
próximo de uma coisa besta para fazer como chegar em casa. Nem mundo, nem gente
pra consertar. Só o meu caminho único e seus desconhecidos. Nenhuma grandeza a buscar,
nenhuma fragilidade da qual fugir. Apenas o carro andando e parando e andando
de novo rumo a um lugar efêmero, um galho onde pousar. E esta imediata gratidão
pela possibilidade do pouso, pelo acolhimento eterno do mundo estrada afora,
pelas pousadas delicadas que muitas vezes escolhemos não ver. Hoje, todos os
semáforos estavam abertos quando entendi que não estava indo a lugar nenhum. E,
no vazio onde boiava, senti que nunca estive só. Uma preciosidade este dia que
vai passar. Não me agarrarei a ele. Seguirei no carro, ruas, avenidas, sinais
fechados, acidentes, quem pode me dizer o que virá? Não importa. Esse dia
existiu e aquela que dirige o carro não é mais a mesma. Viagem.
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Maravilhoso❤️
ResponderExcluirObrigada!
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