Move
A nada leva o fazer se é sobre a brutal necessidade de
ser outro. A nada leva o fazer se ele esconde a impossibilidade de estar. Se é sobre fugir. Se é sobre desamor. A lugar nenhum leva. Me arrastar na poeira é meu não ir. Agarrar minha menina pela gola do
vestido e obrigá-la a olhar para o que falta é meu não ir. Fazê-la mover-se
pelo pavor de quem ela ainda não é ou não pode mais ser... é o meu não ir. Viver
de sustos. Meu não ir. Mosca se debatendo e se desgastando contra o vidro muito
limpo e transparente da neurose. Fazer-me andar porque nunca basta, nunca estou
inteira, nunca estou pronta é meu não ir. Não é sobre pós-graduações,
especializações, diplomas, atestados de valor. Não é sobre reconhecimentos ou um corpo mais magro. É sobre, já senhora de tantas histórias, aprender o prazer de conduzir-me
com doçura. É sobre o cuidado de dizer a mim mesma que nada devo e pode ser leve.
E será tudo desde que seja de veludo e será nada se for de novo marcando a pele.
É sobre deixar na beira da estrada a mártir que conquista a praia mas nunca entra no mar, nunca goza ao sol. Não é sobre o que fazer. É sobre
não lançar meus pés delicados no caminho das pedras. Já dei ao mundo provas
infinitas do meu poder de me mover dor afora. Estou chamando o universo para outra
conversa. Posso ir até a lua, posso não passar da esquina, posso ficar
gigantescamente quieta aqui onde sou, mas estou avisando às estrelas: daqui pra
diante só o amor me move.
*
*
*
Comentários
Postar um comentário
Não tem conta Google? Assine, clique em ANÔNIMO e em PUBLICAR. É fácil! Bjooo.