Não saberá
Não saberemos a resposta, amiga. Esta a realidade crua,
incômoda e inescapável. Não saberemos a resposta. Somos autorizados, no máximo,
a brincar de saber. É a condição para habitar neste playground humano. Só saber
que nada sabe. Fuçar, fuçar, fuçar, cavar a terra até sangrar os dedos, até
varar o mundo e não sair do lado de lá com uma mísera certeza, um vislumbre do
que vem a ser esta existência. Por que é a dúvida que nos constitui na imensidão dos seres
dramáticos e inquietos que somos. É o nosso barro. Inescapável. Não saberemos a resposta. Então brinca de
saber, renuncia ao susto. É o que resta. Cria ou adere a milhares de teorias certeiras e sólidas
como as nuvens no céu. Enche o fosso do seu castelo de certezas e se abriga na
torre alta feita de crenças. Lá, da torre, olha a vastidão das terras que em
algum ponto se tornam desconhecidas. Uma válvula do seu coração irá tremular e
descompassar ligeiramente tocada pelo sopro do medo. Lembra que é só um jogo, o fosso, a torre nunca são
largos e altos o suficiente. Neste
instante, na sua frente, vai passar uma borboleta tonta, carregada pelo vento, com
asas frágeis e vida breve, indo a esmo. Caco colorido de beleza que para nada
serve. Sou eu.
*
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Para Nany di Lima e Mariska Michalick, borboletas do meu bando.
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