Não saberá

Não saberemos a resposta, amiga. Esta a realidade crua, incômoda e inescapável. Não saberemos a resposta. Somos autorizados, no máximo, a brincar de saber. É a condição para habitar neste playground humano. Só saber que nada sabe. Fuçar, fuçar, fuçar, cavar a terra até sangrar os dedos, até varar o mundo e não sair do lado de lá com uma mísera certeza, um vislumbre do que vem a ser esta existência. Por que é a dúvida que nos constitui na imensidão dos seres dramáticos e inquietos que somos. É o nosso barro.  Inescapável. Não saberemos a resposta. Então brinca de saber, renuncia ao susto. É o que resta. Cria ou adere a milhares de teorias certeiras e sólidas como as nuvens no céu. Enche o fosso do seu castelo de certezas e se abriga na torre alta feita de crenças. Lá, da torre, olha a vastidão das terras que em algum ponto se tornam desconhecidas. Uma válvula do seu coração irá tremular e descompassar ligeiramente tocada pelo sopro do medo. Lembra que é só um jogo, o fosso, a torre nunca são largos e altos o suficiente.  Neste instante, na sua frente, vai passar uma borboleta tonta, carregada pelo vento, com asas frágeis e vida breve, indo a esmo. Caco colorido de beleza que para nada serve. Sou eu.

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Para Nany di Lima e Mariska Michalick, borboletas do meu bando.

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