Chega
Chega uma hora que a gente não se revolta mais. E, exaustos,
caminhamos para o abate. Para a câmara de gás. Para o ônibus lotado em meio à
pandemia. Para a arena cheia de leões. Para a urna eletrônica apertar qualquer
número. Para as bordas do abismo feito manada de búfalos encurralados. Chega
uma hora que a gente não se debate mais e deixa o rio levar, talvez para o
fundo. E mil mortos por dia não fazem ruído mais. Chega uma hora que a gente é
brasileiro no pior dos piores sentidos. E se acostuma a encolher o corpo no frio
sob o farrapo verde amarelo até deformar as costas. E então levam o farrapo. E
a gente nem percebe.
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