Mulheres Que Sigo

Vê-las amadurecer os próprios partos de onde brotarão lambuzadas de sangue, crias de si mesmas. Vê-las sufocar no oxigênio que ainda não chamam de ar. Vê-las cambalear e esbarrar o corpo nas paredes do labirinto a caminho da filha, esposa e mãe que poderão ou não ser.  Vê-las, abusadas, se defender até dos abraços amorosos do universo. Vê-las voltar um milhão de vezes ao espelho vazio sem respostas e então saltar um milhão de vezes do paredão para o mar. Vê-las morrer e o corpo ser devolvido à praia. Segurá-las nos braços enquanto esfriam. Chorá-las, enterrá-las mais uma vez e rezar para que mais uma vez saibam ser sementes. Aguá-las, não desistir delas, ainda que demore.  Vê-las, quando não se espera, apontar a cabeça no meio das próprias pernas, crias de si mesmas, cobra mordendo o rabo, elas infinitas vezes renascidas. Vê-las lutar, uma honra que me foi dada. Testemunhá-las e me ver nelas: chão onde também morro, me enterro, broto, apoio e voo.

***

Comentários

Postar um comentário

Não tem conta Google? Assine, clique em ANÔNIMO e em PUBLICAR. É fácil! Bjooo.

Postagens mais visitadas deste blog

O Pequeno Príncipe e a Cobra

Ilusão

Platão e o Macaco Pelado