Porta Aberta
A segurança está no aberto, a porta aberta para que o amor
saia se quiser e o diferente entre se for hora. Está em ouvir o que eu não
quero. Quando estou aberta ao que não
encaixa, os desencaixes não me desestruturam. Este o poder natural do ser, não
ameaçável. Poder com “p” minúsculo, médio, maiúsculo, tanto faz. Poder deixar a
areia firme da praia e brincar nas ondas do imponderável. O redondo não ameaça
a existência do pontiagudo. Sua crença não ameaça a minha. A paz está no livre
e não no cadeado, naquilo que vem até você e não no que você prende. Tudo é
fluxo, nada de fato é seu. Talvez só o momento seja seu. Este que você não vive,
obcecado pelos pensamentos de ter ou de perder. Espaços coletivos, onde todos
têm a chave, são cuidados por todos. Programas abertos na internet são cuidados
por todos. O cadeado simboliza a exclusão e atrai o ladrão. O cadeado evolui para o cão bravo que
evolui para o muro alto que evolui para o vigia da rua que evolui para o alarme
que evolui para a prisão coletiva. Um engano acreditar na felicidade do “meu”.
Um engano testado e comprovado. O “meu” criou a ansiedade da perda e a
necessidade da arma. O aberto é o novo seguro. O que for seu voltará pra você.
Sabedoria ancestral, oriental. O “meu” dá sinais de exaustão nas relações afetivas,
de produção, de trabalho. O “nosso” está deixando de ser o politicamente
correto e vazio e está virando sobrevivência no planetinha azul. “Nosso” é
porta aberta para que o amor saia se quiser e o diferente entre se for hora. É poder sair e escolher ficar. E vingará, menos por que será eficiente... mais porque é delicioso.
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