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Sapo Fluorescente e Raro |
A princesinha é um porre. Ela quer ser convidada para o baile no palácio. Vive com o foco no palácio porque onde ela está, e pode até ser numa faculdade em Harvard, é o borralho. Ela vive aprisionada numa torre esperando o príncipe encantado. Conhece todos os tijolos da torre da neurose, não faz uma corda com os lençóis da cama e pula fora. Fica na janela de pedra fria olhando o horizonte para ver se ele aparece, o príncipe. E, de vez em quando, ele vem. Só que, muitas vezes, está fazendo outra coisa mais interessante do que se pendurar nos cabelos dela: ele não é coadjuvante do seu teatro, tem o próprio espetáculo. Ai o bicho pega e a torre se enche de abandono. A princesinha porre é dedicada à sua fantasia: passa a vida beijando o sapo pra ele, em algum momento vira príncipe. Nem enxerga o pobre sapo. Podia até ser um batráquio raro, com uma língua muito maior e mais esperta que a do príncipe. Não, não e não: quer o conto de fadas a qualquer custo. Tolera, em sua espera inútil, o sapo amaldiçoado. A princesinha é um saco. Ela fica magoadinha porque o rei a convidou sim para o baile, mas não a tirou pra dançar. Detalhe: o rei tinha acabado de voltar da guerra e se livrar de uma armadura de 40 quilos, ele estava com dor no joanete, de saco cheio e se lixando para o baile e para princesinhas. Ele só queria ter dormido cedo naquela noite. E isto, para princesinhas, se chama: rejeição. Pronto, ela ficou deprimida, ela não vai dançar com mais ninguém, nem com o marquês que, dizem, é um senhor pé de valsa. Só a sombra do rei a faz princesinha. Ela é um saco. Mas, de repente, lá no fundo do enorme salão surge, valsando nos braços do marquês, decote generoso, sorriso espalhado na boca vermelha, a duquesa. Já casou, já pariu, já quebrou a cara, e amadureceu, e se tornou senhora do seu desejo, do seu castelo, da sua grana. E abriu mão das ilusões de menina: está no mundo para desfrutá-lo. O rei não quer dançar? Paciência: ela quer dançar. Ficou magoadinha? Nada.
Não quer um rei com cara de guerra e dor no joanete resmungando baile afora. Ela deixa o rei respirar. Ela deixa o rei ficar sozinho na sua própria torre quando ele quer. Ela não é um porre. A duquesa é o máximo.
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Para Ivana Mihanovich, bruxa do tarot.
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