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O cursor pisca na página em branco. Espero, cheia de coisas pra fazer, que um texto baixe do infinito. E ainda há inocentes acreditando que crio. Acham que respondem para mim, para uma mulher de cabelos curtos pintados e rugas fundas ao lado da boca. Não acreditam que não seja eu arrancando o texto com as unhas deste teclado de plástico. Se equivocam e acreditam mais na minha embalagem de carne do que eu mesma. Não adianta mudar de nome e pedir que esqueçam, não se apoiem em mim, não se apeguem à foto do meu gato, do meu cachorro. São o gato e o cachorro de ninguém. As palavras passam por mim feito cacoetes de um Preto Velho. Fiz apenas pactuar com o universo que era melhor relaxar, abrir as pernas, deixar sair . E tento abrir as pernas enquanto corro afobada na multidão. Não é meu o recém nascido e não posso esperar nada dele. É parir e largar. Sou só passagem. Nem a que escreve nem a que corre louca dirigindo o carro praqui, prali, tarefeira, miss ansiedade, reativa, de saco cheio, repetente. Persona cotidiana, armadura de dar conta, trator governado que empresta as cenas do seu dia. Sou fio desencapado balançando e esbarrando no mar coletivo da eternidade. E as mensagens não têm autor. Baixam travestidas de poesia porque não cabem na retidão humana. E toda vez que você mirar em mim, na minha humanidade caolha, e se perder em comparações inúteis, em mensurações defensivas, em exaltações hierárquicas, perderá a mensagem do infinito que encharca o poema. Qualquer poema. Então, por favor me esqueça, não tente me por a mão. Se abriu a porta ao mensageiro, oferece o peito à mensagem. Que eu pouco me importo com a verdade, com a certeza, com a coerência, a responsabilidade, coisa de gente mais ou menos viva. Não me procure nas linhas, nas entrelinhas, nos espaços. Sinta. Você está só na página cercado de palavras. Suporte. A poeta, a mãe, a puta que pariu o texto, mal baixou o arquivo da nuvem da alma e teve de correr rasinha pro supermercado.
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ninguém teve coragem de comentar?
ResponderExcluirÉ preciso estar disponível para o ódio ou o amor não vem. Safo aqui, câmbio.
ExcluirTô indo pro supermercado correndo me agarrar em você, grande escritora.
ResponderExcluirTe amo!
Paula Nigro
Paula amada, só aquela sua amiga palhaça de nariz de bolota, a tal Olívia, consegue me agarrar. Você não pode. Vá agarrando a outra que ela me mantém sempre informada de tudo. Beijo.
ExcluirNão adianta querer se safar, senhorita Safo, pois os textos estão impregnados de você.
ResponderExcluirE é isso que faz a diferença. E é isso que faz eles serem únicos. E é por isso que gosto tanto de ler você. Você é uma grande criadora ( e não sou inocente por acreditar nisso).
Um abraço!
Em tempo: bela homenagem ao menino no post anterior.
KKKKKKKK. Márcia querida, te perdoo por me misturar com ela. Ah se ela colocasse em prática tudo que eu sopro em seus ouvidos, talvez se perdesse completamente, talvez se achasse e nunca mais escrevesse aqui, talvez internassem de vez a louca. Confesso que preciso dela, mas repito que é limitada de uma forma que eu não sou. Aquele menino, inclusive, não é filho meu que eu sou solteira, senhorita, e por não ser mãe, posso falar melhor dele do que ela. Enfim, que ela não me atrapalhe e que você prefira o texto a uma de nós. Beijo.
ExcluirEntão tá... Fica combinado assim: eu finjo que estou te entendendo, você finge que você não é você e continua nos encantando com seus textos! Abraço
ExcluirAêêê Márcia! Se todos fizerem isto escreve-se melhor aqui. Hehehe. Beijão.
ExcluirEScrevi bastante, não consegui acessar o google, perdi o texto e estou com preguiça de escrever outro.
ResponderExcluirAgora vai como anônimo, só pra dizer q não vou dizer nd.
Ô dó.
Sou a Sylvia Manzano.
Beijo Safo.
Olá Sylvia. Vê como o universo sozinho nos poupa? Acho que o Google agora foi mais claro do que eu.
ExcluirBendita sois vós entre as mulheres que concebeis estes textos sem pecado! Bjs
ResponderExcluirBendita sois vós que compreendeis.
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