Safo

Procura-se o autor da imagem O cursor pisca na página em branco. Espero, cheia de coisas pra fazer, que um texto baixe do infinito. E ainda há inocentes acreditando que crio. Acham que respondem para mim, para uma mulher de cabelos curtos pintados e rugas fundas ao lado da boca. Não acreditam que não seja eu arrancando o texto com as unhas deste teclado de plástico. Se equivocam e acreditam mais na minha embalagem de carne do que eu mesma. Não adianta mudar de nome e pedir que esqueçam, não se apoiem em mim, não se apeguem à foto do meu gato, do meu cachorro. São o gato e o cachorro de ninguém. As palavras passam por mim feito cacoetes de um Preto Velho. Fiz apenas pactuar com o universo que era melhor relaxar, abrir as pernas, deixar sair . E tento abrir as pernas enquanto corro afobada na multidão. Não é meu o recém nascido e não posso esperar nada dele. É parir e largar. Sou só passagem. Nem a que escreve nem a que corre louca dirigindo o carro praqui, prali, tarefei...