Amor Cruel
Sampo Kaikkonen http://sampokaikkonen.com/gallery/?year=2005 |
A vida é cruel e eu tenho a alma romântica. Acredito, no fundo, que o bem prevalecerá e que a bondade há de me salvar. Papagaices cristãs. A vida, em seu fluxo inexorável, é cruel e tem sua lógica intrínseca que transborda a compreensão humana. Segue feito enxurrada obediente às curvas do planeta arrastando tudo. De repente uma mulher jovem e boa tem um linfoma, está grávida de um menino, e luta com coragem e bom humor pela vida, e acredita na vida, mas, nascida a criança, é vencida pelo câncer e morre. Vejo suas fotos, sempre sorridente, abraçada aos filhos, o que nasceu e o outro de quatro anos, e recorro aos meus livros de contos de fadas para entender como pode morrer a princesinha? Como, se fez tudo certo? Se comeu direitinho, se fez terapia, se descansou, se conversou com Deus, se pediu perdão e implorou em nome dos pequenos filhos? Nenhum final feliz vem em meu socorro. A vida é cruel e somos atores descartáveis em sua ópera. Inocentes são ceifados diariamente, a despeito de todo o bem que fizeram. A vida não se importa. Manda a natureza nos tratar como o que somos: bichos. Morremos como formigas acidentalmente atropeladas pela roda do carro. Esta, a crueldade da vida contra minha alma romântica. Viver é agora, é por enquanto, não há âncoras que me prendam, não há garantias, não há futuro. Entrego-me à finitude. Fria de pavor. Sou também esta carne temporária, este olhar temporário, esta expressão temporária no mundo, e o tempo não me pertence. Acima da altiva cabeça humana, as Moiras tecem o fio da vida, alheias às minhas idiossincrasias. Nem a Zeus devem obediência. E quando não sei, Átropos tranquilamente, sem alarde, sem sofrimento, levará ao fio sua tesoura, como qualquer velha tricoteira absorta numa tarefa diária, e acabará esta minha vida. Olho ao redor: o sol nas árvores, o pássaro colorido sobre o telhado do vizinho, meu cachorro late, a voz do meu filho ao longe, vida amada, adorada, respiro mais fundo este ar que agora tem gosto e abraço furiosamente o presente.
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Para Elaine César, que não conheci mas me ensinou.
http://elainecesar.blogspot.com/
http://elainecesar.blogspot.com/
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Eis que estou a chorar... Lindíssimo!!! Beijinho...
ResponderExcluirConheci Elaine Cesar há muitos anos, deveria ter 25. Era doce, suave . O rumo de cada uma de nós seguiu caminhos diferentes apesar de estarmos no mesmo meio.
ResponderExcluirVez ou outra tinha notícia dela do tipo: casou, descasou, está dirijindo, está trabalhando com teatro. Ano passado passeando pelo Facebook de um amigo em comum vi fotos dela e percebi o câncer pois ela estava sem cabelo, mas parecia forte. Depois ouvi comentários sobre a luta pelo convívio do filho.
Semana passada soube que estava pedindo doação de sangue, estava me preparando para ir doar qdo veio a notícia de sua partida. A história de Elaine tem lacunas ,me deixou como você Nanna. Comecei então a ler o Blog dela , preciso entender melhor e viver a experiência dela. A experiência alheia nos ensina muito .Sugiro você postar este texto lindo no blog dela, como uma homenagem `a guerreira Elaine.
Você assistiu A Árvore da Vida, Nanna? O filme me fez compreender algo que eu nem sabia que queria entender. E quando me pergunto, hoje, qual é a importância da vida humanada (seja a de uma mãe ou a de um milhão de africaninhos) em um universo de tantos bilhões de idade e tamanhos, a resposta que entendo é tão simples e tão devastadora... Importamos tanto quanto um verme amarelo, ou uma estrela gigante vermelha. Somos tudo a mesma coisa.
ResponderExcluirÉ Leo querido, maravilhosamente é isto mesmo. Vou ver o filme. Beijos.
ExcluirHello! I m really sorry. I use to include the autors in the pictures but sometimes i don t find the names. Thank you very much for your generosity. Congratulations for your big talent. A big kiss.
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