Meio Ovo
Nunca está bom. Sempre falta. Olho cheia de inveja para o jacaré no banco de areia no meio do rio. Plácido. Não falta nada. E quando falta é tão simples, tão reto. Mas eu caí na esparrela de vir ser humano. Um bicho cheio de receitas de ser. Para mim falta tudo. Acordo de manhã precisando beber menos, ganhar mais, encontrar o melhor corte de cabelo, fazer algum curso, meditar, respirar usando o diafragma, ser mais positiva, comer mais ovo, comer menos ovo, comer meio ovo, comer dois ovo, não errar o plural de ovo. Estou sempre errada, inadequada, devendo. Não consigo simplesmente apoiar a barriga no banco de areia e olhar o céu. A barriga que apoio no banco de areia é grande demais, é flácida, é um corpo estranho plasmado no meu abdome, um continente ou conteúdo psicanalítico que não cala e não me deixa em paz. Não sendo um jacaré, preciso evoluir sem descanso: encontrar minhas sombras, desvendar meus traumas, buscar a iluminação mas, claro, com humildade, não muita humildade que pode ...
Lindo.
ResponderExcluirEu larguei a psicologia no segundo ano e fui fazer artes cênicas, gerando uma verdadeira crise familiar! Para a minha família a psicologia era bem preferível ao teatro...
ResponderExcluire sobre mais essa coincidência em nossas trajetórias, eu nem vou comentar... rs
Wow, N., as duas últimas frases bateram. Muito.
ResponderExcluirPorque é que a mãe da gente sempre quer nos empurrar para o mais fácil (ou não!) e óbvio? Tenho quase 40 anos e ouço a minha mãe falando sobre concursos públicos. E às vezes, como você, penso se ela não tem razão. Enfim, quero é mesmo ser feliz!
ResponderExcluirBeijo