Meio Ovo
Nunca está bom. Sempre falta. Olho cheia de inveja para o jacaré no banco de areia no meio do rio. Plácido. Não falta nada. E quando falta é tão simples, tão reto. Mas eu caí na esparrela de vir ser humano. Um bicho cheio de receitas de ser. Para mim falta tudo. Acordo de manhã precisando beber menos, ganhar mais, encontrar o melhor corte de cabelo, fazer algum curso, meditar, respirar usando o diafragma, ser mais positiva, comer mais ovo, comer menos ovo, comer meio ovo, comer dois ovo, não errar o plural de ovo. Estou sempre errada, inadequada, devendo. Não consigo simplesmente apoiar a barriga no banco de areia e olhar o céu. A barriga que apoio no banco de areia é grande demais, é flácida, é um corpo estranho plasmado no meu abdome, um continente ou conteúdo psicanalítico que não cala e não me deixa em paz. Não sendo um jacaré, preciso evoluir sem descanso: encontrar minhas sombras, desvendar meus traumas, buscar a iluminação mas, claro, com humildade, não muita humildade que pode ...
Hmmm, sei não... Mas eu disconcordo com você.
ResponderExcluirPosso dizer que o Destino poupou-me de relacimentos com moças afetadas em demasia por estes males. Não me cosidero vítima e nem mártir dessas alterações que ocorrem a vocês venuzianas, por isso falo com espírito desprendido.
A colocação foi genérica, mais ou menos no sentido de que todas (ou quase todas) as femêas são indistintamente afetadas por estas alterações hormonais cíclicas.
Entrementes, no deambular por este Vale de Lágrimas, tive o prazer ou a sorte de conhecer várias mulheres que, afora as alterações fisiológicas, precauções e incoveniências inerentes ao fenomeno,não apresentam disturbios psíquicos-comportamentais dignos de nota. Lógico, caberia indagar se estes exemplares encaram a coisa mais numa boa porque os efeitos nelas são menos intensos, ou se nelas os efeitos são menos intensos porque elas encaram esses dias mais numa boa.
Bem sei que devem haver dúzias de pesquisas demonstrando cientificamente todos os mecanicanismos insidiosos e deletérios que esta visita mensal põe em ação. Porisso, sob pena de condenação automática por machismo cafageste, reducionismo, simplificação, blasfêmia e insensibilidade, não entrarei em discussões complexas sobre o atraente segmento de mercado fármaco-terapeutico movimentado por esta questão, visto que, ao fim ao e ao cabo, chega-se sempre ao tradicional desfecho: "fácil falar porque não acontece com vocês, queria ver se...!"
Então, centrar-me-ei na questão dos days-after. Olha, a imagem do arco-íris depois da tempestade até que é bacana e reconfortante, mas, acho que talvez só se aplique a casos raros e esparsos, assim, "a nível de" coletividade acho que não rola.
O que se vê mais freqüentemente é o mau-humor, o bode do incorformismo pelos dias de perturbação cíclica permanecerem por mais alguns dias no trato cotidiano.
Em geral,o que se verifica é uma discreta e silênciosa volta à "normalidade" do cotidiano. Arco-íris? yo no lo creo. Antes, ocorre-me a figura do cometa, de órbita incerta, cujas aparições esporádicas, raras, não têm efeito prático sobre o Zodíaco, as marés, pesca ou corte de cabelo e, como espetáculo dificilmente corresponde à expectativa acumulada.
DIscurpa esse palavrório todo. Beijo.
Mané das Candongas