Algumas vezes, nos momentos de excessivo cansaço, uma cena fantástica vem à minha cabeça, como uma memória atávica amorosa. As raízes de uma árvore me abraçam, com candura, suavemente, literalmente me abraçam. E meu corpo encontra a paz como se estivesse pousado num colo de Vó. Esta cena desenterra sempre em mim uma saudade do tempo em que eu nada era, só um bom pedaço de vazio. Não, eu não acredito e duendes, nem fui catequizada por alguma seita bicho-grilo de comedores de alface. Estas imagens vieram na mala da minha memória quando aportei, 43 anos atrás, na maternidade Sarah Kubitschek em Belo Horizonte. Estranho pedaço de vivência não vivida mas vívida, intensa, real. Talvez herança de um macaco pelado morto há milhares de anos a quem estou ligada por uma secção de DNA. Nele perpetuada a natureza, primeiro grande Deus, generoso, colérico, pai-mãe do alimento e do trovão e a árvore onde subíamos eu e meu filhote macaco fugindo de um predador ou atrás de uma fruta doce. Ou talvez...