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Mostrando postagens de janeiro, 2025

Coragem cenográfica

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A coragem do extremista é cenográfica. Serve só ao espetáculo. Coragem de gritar ódio em direção à muralha da própria bolha que sempre vai devolver-lhe o eco. E até quando explode abraçado a uma bomba, ele é o que menos se arrisca, protegido pelo conforto de habitar um universo simplório dividido entre o bem e o mal. Poupado pela preguiça emocional de poder ser indiscutivelmente do bem. Preservado pela ideologia que ele transformou em redoma inexpugnável. O extremista nunca corre riscos de verdade porque nunca corre o risco de se expor à verdade do outro. É o mais assustado dos seres, onde o medo fez sua melhor obra. A coragem mesmo está naqueles que se arriscam na metade do caminho onde os mísseis dos dois lados caem e são capazes de parar de correr no meio do estouro da sua própria manada. E abrem mão do espetáculo para trabalhar no terreno mais anônimo, menos midiático, menos imediato, menos lucrativo da construção de pontes. * * Às vezes me falam pra descer do muro. Eu vim destruir...

Chega de Show

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Zé Cenoura montou seu cirquinho poderoso do mal. Movido pela cenoura gigante e pontuda que habita seu inconsciente, Zé Cenoura equipou o cirquinho do mal com coisas pontudas que ameaçam. Ele tem uma técnica infalível aprendida com o clã cenoura onde habitam os Zés da comunicação do cirquinho do mal: berrar atrocidades no alto-falante do mundo. Manter o ser humano assustado e distraído. Vender culpa pra quem está frustrado e achando a cenoura pequena. Tá frustrado? Tá sem grana? Tá sem emprego? A culpa é do vizinho, do preto, do gay, do latino, do chinês, do extraterrestre e Zé Cenoura tem sempre uma solução simples, drástica, miraculosa, que já foi tentada e não deu certo mas não importa desde que você acredite mais uma vez que existe  uma solução simples, drástica, miraculosa para os problemas. O que importa para Zé Cenoura é o show do cirquinho do mal, tirar do guarda-roupinha sua fantasia de herói e correr pela sala com o braço erguido e o punho levantado no ar,  super Zé C...

Pode Acabar

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Não é mais sobre a guerra. Nenhuma guerra. É sobre a Terra, toda a Terra. Por que não é mais sobre quem estava certo, quem ganhou, quem venceu. É sobre a espécie que sobreviveu. Não é mais sobre o dono da autoridade, quem tem o cargo pra mandar. É sobre assumir a autoria de pequenas   crueldades. É sobre a capacidade de autorizar essenciais alegrias. Não é mais sobre recursos a explorar. É sobre  a sabedoria de  recusar-se a explorar, mudar o curso. Nem é sobre a urgência de cada reciclagem. É sobre a inteligência de ouvir a mensagem vital e se curvar humildemente ao ciclo natural. Não é mais sobre o poder que nos trouxe até aqui. É sobre reinventar o poder pra seguir sem apodrecer. Não é sobre o crescer é sobre o parir. Nem sobre o ter, é sobre o sentir. É sobre consumir sem adoecer. É muito sobre o que virá e ao mesmo tempo é sobre o já, o agora. E não é sobre a dor que vem de fora, o inimigo que ameaça. É sobre se saber o predador e sempre a caça. E não é sobre ser sal...