A Nave
Ame este corpo, mas não te distraias demais com ele. É só a nave que te empresto para a viagem na dimensão concreta. É teu escafandro e não tua prisão. Veste este corpo, mas desapega do teu nariz grande, teu seio pequeno, tua falta de bunda, tuas pernas assimétricas. Eu nada sei de padrões. Bela é a casca irregular da árvore, as patas peludas do inseto, a rachadura interrompendo o arredondado da montanha. E tu não és mais nem menos que aquela fissura. Então, não te distraias demais com os formatos únicos dos teus tecidos. São bordados que faço cada vez com um ponto diferente. São a prova da minha criatividade, nada mais. Desta vez, vieste com aparência de mulher, mas já vieste de tantas formas e virás de tantas outras. Não cobre tuas curvas de dor. São só uma brincadeira que combinamos de fazer juntos no tempo em que eras tudo. Cada corpo te propõe novas histórias para viver e para contar. É só isso. Não te deixes hipnotizar pela feira de corpos que teus irmãos criaram. Eles apenas ten...