Estupidez

Em junho deste ano meus ouvidos adoeceram. Fartos da balbúrdia do mundo que alimento. Não lhes basta o silêncio solitário da meditação, querem o meu silêncio no tiroteio verbal cotidiano. O silêncio. Necessário. Urgente. Produzi-lo. Falar menos. E menos. Até nada. Desviciar-me em falar. Desviciar-me em comandos, em comentários. Receber as provocações do mundo e calar. Não reagir, não rebater, não repicar. Calar. Produzir silêncio para o conforto do mundo. Abrir mão do status de máquina afiada de pensar e cuspir palavras. Deixar de dar feedback, de dar fé, de depor. Calar meus achismos e, se possível, nem chegar a achar nada sobre esta sua escolha, esta sua atitude, este seu novo amor. Só balançar a cabeça de leve e aceitar. Muda. Parar de tentar remediar o mundo com minha fala. Parar de terapeutizar o mundo. Aquietar nas coisas como são, na beleza do que é. Dar tempo aos olhos de encontrar a beleza que jaz antes que o pensamento borre tudo com suas expectativas e a fala contamine a ...