Eu tenho 16 anos. Tinha. Estou morta. Enforquei-me no banheiro da casa dos meus pais. Escrevo aqui através dos dedos de minha mãe. Eu nunca escrevi bem, deu-me um trabalho grande minha carta de despedida que reescrevi muitas vezes e, mesmo assim, sei que ficaram erros perdidos em algumas linhas. Esperei que o coração de minha mãe se acalmasse um pouco, então pedi a ela que me emprestasse seu dom uma vez para que eu dissesse a todos vocês que choraram e choram, que se assustaram, que ficaram perplexos, que perderam o chão: morrer é um direito de quem nasce. Viver não é obrigatório. Viver não é para compreender, é para ser bom. E para ser suficientemente bom, em algum lugar tem que bastar estar vivo. Sem enfeites, penduricalhos, sem fazer nada, sem ter nada... Tirar tudo de cima, mergulhar no vazio, na solidão, no possível e encontrar o prazer de viver, de estar conectado. Quem fica é porque encontra. Morrer também não é para compreender. Muitas teorias sobre minha morte vão caber e nenh
Isso que você chama de realidade, fato, verdade, isso a que você se apega, este piso, estas paredes, este corpo, este medo... isto eu chamarei de ilusão. Já o velho Platão nos deu a chave. Isso tudo é criação sua. Principalmente o medo que você coloca em todas as coisas como um perfume. Porque você, alienado da vida na Matrix, vive criando gaiolas na mente para morar dentro. Pensa o limite e ele se materializa. Pensa o final infeliz e vive para evitá-lo e vive infeliz. Esta infelicidade não é maldade do universo, é criação sua. E gente infeliz, meu Deus, não faz gente feliz. Então me escuta. Isso que você chama de limite, esta cinta apertada cortando a carne, esta dor na qual você se apega e chama de realidade... isto eu chamarei de ilusão. Pode gritar, espernear, apontar culpados na multidão. O universo não tem nada a ver com isso. São escolhas suas. Você aperta este cinto todas as manhãs e busca o furo intolerável. E escolhe ser arauto da dor. E escolhe espalhar a dor porque ela,
Amiga, li sua postagem na rede social na qual você explicava seu prolongado e notado silêncio. Você, sempre tão generosa em palavras lúcidas, tinha jogado a toalha, desistido de piscar a bunda do seu vaga-lume. Eu, acostumada a me orientar pelas suas piscadas distantes, senti o golpe. E corri para o meu caderno onde, em momentos críticos, incorro no anacronismo de escrever a mão, e onde poetas de outra dimensão me socorrem com respostas. Queria ser capaz de escrever algo que te animasse a meter de novo o dedo no interruptor e reacender a lanterna vital neste imenso breu. A caneta, em modo psicográfico, escreveu no papel: Platão. Sabe o cara que viveu há mais de quatrocentos anos antes de Cristo, o grande filósofo que bebeu em Sócrates e ensinou a Aristóteles? Então, amiga, ele já nos avisava da cegueira humana no seu texto “O Mito da Caverna”. A maior parte de nós, macacos pelados pensantes, nasce e morre dentro da caverna. A maioria não conhecerá outra realidade. Nada de sol sobre
Comentários
Postar um comentário
Não tem conta Google? Assine, clique em ANÔNIMO e em PUBLICAR. É fácil! Bjooo.