Meu cadinho preto
A origem da minha família mineira remonta a uma cidadezica do interior, assombrada por conservadorismos e preconceitos, comuns às cidadezicas do interior. Terra de fazendeiros brancos, elite branca do Brasil agrário fundada sobre os alicerces da escravidão. Ali nasceu minha mãe, mulher forte talhada para as linhas de frente. Carregada dos tais preconceitos herdados, já casada e com sete filhos, já morando em Belo Horizonte, cuidou de me afastar dos pretos que moravam num cortiço do lado de casa. Lembro de mim mesma estuporada de alegria dentro de uma bacia grande de latão tomando banho com uma menininha preta. Bacia no chão, o cortiço coletivo, colorido e sonoro me abraçando, a água morninha, o sorriso muito branco da menina... Minha mãe me levando embora. Ali não mais, nunca mais. Fui carregada no colo dela olhando para trás sobre seu ombro para um mundo preto ao qual eu não pertencia. Mas carreguei o rosto redondo e brilhante da menina da bacia. Como se a água do banho tivesse penet