Desfibrilador Portátil

Sentada numa agência dos Correios com uma senha na mão só me resta, na demora da espera, olhar o rosto daquela senhora que aguarda de pé apoiada no balcão. A cara feia da senhora apoiada no balcão. Nela vejo todo o horror de uma vida chata e desgastante. A expressão do desgosto mora ali, naquele rosto. E não foi sempre assim. Ela já foi criança, já foi adolescente. Naquele tempo, mesmo distraída, apoiada num balcão, trazia uma expressão mais leve. Giro meus olhos 180 graus dentro do globo ocular para mim mesma. E me percebo também possuidora de uma expressão dura, tensa. É o meu natural de hoje. Pobre dos desconhecidos na sala dos Correios que cruzarem o olhar acidentalmente com a minha cara. Perdida em pensamentos quase sempre opressivos, abandonei meu rosto neste esgar infeliz. O outro me olha e confirma sua decepção com o mundo. Minha cara feia alimenta a dele, alimenta a cara do funcionário dos Correios que me atende, alimenta o transeunte que cruza comigo na rua numa corre...