No que havia

Estou confortável dentro de mim. Pelo menos por agora não há faltas ou sobras me tirando o sono. A dança multicolorida das chamas da fogueira não seduz mais minha borboleta. Era a morte? A glória? Não busco mais tanto. Quero fazer as coisas no aqui e agora com a inteireza do meu presente. Sou esta, não aquela que eu devia ser. Dirijo um carro cheio de crianças rumo à escola, inteira como quando escrevo um poema. Faço coisas pequenas, anônimas, e acho que Deus está me olhando, então me esmero. Ofereço o meu melhor ao outro: o presidente da multinacional, o porteiro do prédio. E o exercício do meu melhor me revigora. E não é papo furado mais. Não é exibicionismo, fome de reconhecimento, tapinha nas costas. Não é blefe. É o amor liberto das mesquinharias do ego me preenchendo em cada fresta. Fiz as pazes com o ser humano. Gosto de pessoas desconhecidas que atravessam a faixa de pedestres na frente do meu carro. Incompletas, tortas, atarantadas, cada uma, uma peleja. Estão tentando. ...