Gustave Doré Sem um pingo de hesitação ela escolheu, entre milhões de machos no descampado, aquele que iria para sempre apontar-lhe as feiuras. Um tipo desvalorizante, avarento de elogios. Princesa amaldiçoada estava, sem saber, cumprindo os desígnios de uma fada má que não haviam convidado para o seu batizado. O macho dela havia de ser assim: pequenininho. E a segurança dele dependeria de que ela nunca, em hipótese nenhuma, se enfiasse num salto. Não vamos nos precipitar em concluir que ele era mal. Não era. Ele era o escolhido, garimpado, esculpido no inconsciente, o eleito capaz de executar à exaustão a complexa tarefa de apequená-la. Porque ela pelejaria por ser aceita, reconhecida e amada. Estava tudo escrito. Desdobrar-se-ia em tarefas domésticas, trabalhos free lancers, cuidaria dos filhos, sempre no limite da exaustão e, à noite, esperaria seu tapinha nas costas, sua sardinha. Mas tudo que ouviria, semimorta e pálida, derrubada sobre o travesseiro frio, seria algum comentá...