Luciana e Rubem

Deus me dê sensualidade. Que nada tem a ver com beleza. Que nada tem a ver com juventude. Que nada tem a ver com silhueta. Que tem a ver com saber-se. Lembro-me de Luciana: uma jovem senhora quando eu era uma menina magrela recém-chegada da adolescência. Estudávamos teatro juntas. O exercício era atravessar a sala caminhando com sensualidade. Lembro-me de Luciana, que nunca foi a mais bela, que era mãe de dois, que não tinha namorado, atravessando a sala, sensualmente. De camiseta surrada e calça de malha. Lembro-me de Luciana escorregando como dedos pela epiderme do chão de tábuas corridas, como língua pelos desníveis do abdome do piso, como uma mensagem perturbadora pelos sulcos úmidos dos nossos cérebros. Lembro-me de Luciana, em seu momento manga madura hipnotizante. Cheguei à idade de Luciana. Já quis menos rugas, menos flacidez, menos grisalho, menos gordura. Quero mais. Quero o poder de Luciana de estimular as glândulas salivares dos outros com meus ombros nus enqu...