Quando comecei a roubar

Eu resolvi roubar também. É. Vou roubar os outros. Vou aderir à roubalheira institucionalizada, juntar-me aos maus e engrossar a farra do cada um por si. Chega desta bobagem de querer fazer arte aos trancos e barrancos, implorando esmolas do Estado ou ajoelhando para o marketing dos patrocinadores. Melhor ser criminosa que ser artista nesta triste república verde amarela. Chega. Encheu. Vou chamar umas amigas que também andam bem de saco cheio da falta de tudo reincidente no cotidiano tupiniquim e vamos montar uma gangue. De dia, vamos levando esta vidinha besta de ler jornal e descobrir que fomos vítimas mais uma vez dos políticos, dos líderes da nação e dos chefes das quadrilhas de todos os níveis hierárquicos, mas de noite... Ah! de noite vamos à forra. Vamos tomar o nosso na marra, enfiar uma arma na cara dos que ainda vagam por aí indefesos e arrancar tudo que der. Vamos assumir nosso parentesco com aquele ladrão português que foi abandonado na Terra Brasílis pelas primeiras caravelas. Ele sim, soube fazer seguidores. Vamos esquecer este negócio de País de Todos e assumir nossa verdadeira vocação para explorar: sugar as riquezas que estiverem por aí dando sopa com nossos dentes fominhas e ir embora. Voltar pra Portugal! Aquilo sim é país, não esta pocilga cheia de estúpidos e canalhas de plantão. Isto! Vamos roubar bastante e comprar nossa passagem de volta para a Europa, o continente dos sempre desenvolvidos, dos educados, dos patriotas. Chega deste arremedo de país onde o ápice do patriotismo acontece no jogo de futebol. Terra do coco rolando. De repente, a gente rouba muito e fica até famosa. Tanto bandido dominando a mídia neste país! Vai que enfim nos chamam pra fazer novela, filme, gravar disco? Sim amigos, eu vou roubar também. Engrossar a corriola dos assaltantes que são parte natural da nossa complexa sobrevivência brasileira. Vocês fiquem ai sendo otários honestos. A vítima que eu era morreu: acaba de levar um tiro de fuzil na cabeça onde ela guardava os valores que ninguém podia roubar.
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E, aqui, nós roubando...


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