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Mostrando postagens de setembro, 2012

Renda de Bilro

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Sentada num café no centro velho de São Paulo, vejo o povo brasileiro que zanza por calçadas exíguas e esburacadas à minha frente. Gente feia. Bando de vira-latas.  O centro de São Paulo é um mostruário do Brasil que quero evitar. Gente burra. Comedores de programas rasos de TV cheios de violência e pornografia.  Zanzam feito baratas do lado de lá do vidro do café. A cortininha branca com rendas de bilro na janela de vidro confere um certo charme intelectual à minha observação. Gentinha. Eles são culpados da minha infelicidade. Não leem, não vão ao teatro... povinho sem educação. Por causa deles eu não posso ser a artista sensível e profunda e culta e refinada que sou. Porque os filhos da puta me ignoram, me deixam à míngua, me trocam por qualquer peituda pelada que role numa piscininha de plástico cheia de espuma. Eu que li tanto, que me preparei tanto. Graças a Deus existe esta cortininha branca de renda de bilro e esta janela grande de vidro dando um ar de Paris em tudo isso. Pos

De Volta à Superfície

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Viktor Iyagushkin Estou deitada lendo poesia. Passarinhos enlouquecidos de alegria piam lá fora. Mamãe está na UTI mas está bem. Cancelada minha despedida. Raios de luz denunciam a superfície próxima. Apalpo meus braços e pernas gelados e endurecidos pelo esforço. A nova casa está de pé, está em ordem. As crianças se arrastam pelo chão de cimento queimado e o cachorro espichou-se ao sol sobre o deck que fizemos construir. Empurro a água com força para baixo, para a fossa abissal que visitei. Todos os trabalhos foram entregues e os exames do filho foram providenciados. Meu marido chegou e parou o carro na garagem grande que sempre quis. Um raio de sol explode no meu olho submerso. É quase superfície, eu sei. Experimento, embriagada de mim, o dolce far niente esquecido. Minha filha avança escada acima mas toma outro rumo no corredor. Não vem. Tudo conspira para o silêncio sepulcral em minha caixa poética. Só os passarinhos me provocam com seu dueto minimalista. Nem quadro há na par