Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2011

Ombros de Veludo

Imagem
Vem chegando o verão e gazelas desnudas surgem nas ruas e nos retrovisores dos automóveis tirando o sossego de toda a gente...

Ladeira Abaixo

Imagem
Me surpreendo correndo desarvorada ladeira abaixo rumo ao fim da vida. E paro. Hoje vi estupefata surgir a primeira lojinha de enfeites de Natal. E a minha Páscoa foi ontem. Onde eu enfiei estes milhares de horas de vida que se esparramam entre um evento comemorativo e o outro? Em algum momento perdido, ou talvez aos poucos, fui assumindo meu lugar no fast food da vida. Não saboreio mais o tempo. Corro. Repriso tarefas cotidianas. Não presto mais atenção nos caminhos de sempre. Chego à porta da escola  levada por um mecanismo parassimpático autônomo que gira o volante e engata as marchas e aperta os pedais. Estava na porta de casa e agora estou lá. Sou um autômato dirigindo o carro pelas mesmas ruas e curvas e desviando dos mesmos buracos. Alienada de minha ação rotineira no mundo, deixo de existir. As vivências repisadas nada mais dizem ao cérebro, elas simplesmente passam. O novo é o que acorda os órgãos cansados dos sentidos para a vida. Por isso, quando pequenos, nosso dia é eter

Desencarnada

Imagem
Nem sempre gostei de estar viva. Lembro vagamente de um tempo em que eu queria voltar pra minha estrela feito Pequeno Príncipe mordida por uma cobra. Eu fui uma criança sem vontade de encarnar. No começo, não olhava a humanidade criticamente. Só me incomodava. Quando homens e mulheres me cansavam com suas esquisitices, fugia pro telhado da casa. Só. Acima dos dois andares, me aninhava silenciosa sentindo a presença magnética do céu. Lá embaixo, o boxixo humano me chamando e eu sem entender que droga tinha ido fazer ali. Lembro-me de querer que passasse logo: a vida. Como um cachorro caído da mudança, um alienígena cuspido da nave espacial e deixado pra trás. Às vezes, desconectava da carne e flutuava um pouco rumo ao imenso mas sentia o pavor humano daquilo que chamam aqui de morte e era obrigada a voltar. E como não descobrisse meio de partir e a vida social fosse me cutucando cada dia mais, decidi que era melhor botar um pé na Terra e achar meu canto. Negociar com o mundo alguma a

Saia Correndo

Diga a verdade e saia correndo. Provérbio Iugoslavo, sábio. Ainda que a verdade, em sua forma final, não exista. Diga a sua verdade. Os mares se erguerão em fúria? Mamãe não vai gostar? O marido vai ficar chateado? Os amigos vão tomar sua faixa de Miss Simpatia? Diga a verdade e saia correndo. Nem sempre o dito é o querido mas pode ser o necessário. Televisão é que diz ao povo o que o povo quer ouvir. Você não é a televisão. Contradiga a massa. Pelo menos às vezes. E corra para um lugar seguro. Quando vier brotando lá do fundo do seu estômago cansado um não, uma desconformidade, um impróprio, considere deixar sair. Pode ser uma mensagem da sopa primitiva do inconsciente coletivo suportável e saudável para todos no futuro. Ou pode ser apenas uma enorme besteira. Corra o risco. Seja um chato. Um dia, um puta chato ficou enchendo o saco das pessoas com a história idiota de que a Terra girava em torno do sol. Queriam até mandar o chato pra fogueira. Seja chato, se quiserem tacar fogo em v