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Mostrando postagens de julho, 2011

Oco

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Estou branca como a folha virtual à minha frente. Desde domingo chamando, e o texto não vem. Espero em vão a poeta que está entocada em algum buraco do profundo.  Saiu pra comprar cigarro, picou a mula.  Ela que é livre e tem lá suas razões para se afastar de mim. Eu que nem sempre a amo incondicionalmente como devia.  Já é quarta-feira. Melhor me entregar. Escrever sobre o nada, o buraco negro, a ausência. O nada que às vezes me apavora. Medo de olhar o meu vazio. Tudo que eu quis e quiseram de mim e não é. O que não serei, não tenho para dar, não consigo. É o que faço agora debruçada na cisterna seca. Lá embaixo, só o breu mudo. Nem tristeza vejo. Só um oco. Deve ser nesta hora que alguns se atiram da janela. Quando nem a dor te prega neste mundo. Mas eu não. Intuo que algo está sendo gestado no escuro e me acomodo no vácuo.  E curto o vácuo, o precioso não ser. Espero. É uma espécie de meditação imposta pelo universo. Um entreato entre ser esta e a que virá.  O mundo lá fora vai se

Jacarés e jibóias

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Corro. Melhor na esteira porque ela não me deixa mentir. Ela não negocia, não ralenta. Suo mais na esteira do que entregue à minha própria força de vontade pelas ruas. Calibro para seis quilômetros por hora. E corro. Os primeiros cinco minutos são em direção à lava fumegante do Krakatoa. A morte. O que é que eu estou fazendo ali?? Tô looouca??? Que se dane a silhueta, estou com quarenta e quatro, eu mereço ser gorda, eu quero ser gorda, pronto. Sinto-me com oito toneladas dando pernadas na maldita esteira. Vou parar, é isso, vou parar agora, já... não!... mais um minuto... só mais um. E, de um em um, supero a barreira dos cinco. Tempo para o cérebro me aplicar uma dose de endorfina e começar a ser bom. Quase posso sentir os goles de endorfina sempre que a corrida vai ficando pesada ou sem sentido. E corro  anestesiada. O cansaço vai virando uma leve euforia e as ideias boas brotam dos cafundós da mente. Bendita química. Quero chegar aos trinta minutos mas me peço apenas mais cinco. Vou

Dory

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Gosto de desenhos animados. Gosto da esperteza de alguns criadores geniais em travestir de infância conteúdos tão profundos e significantes. Não falo de mensagens politicamente corretas em defesa do meio ambiente. Isso já virou cacoete. Falo de ir ao encontro da complexidade humana sem firulas, sem criancice, sem subestimar os pequenos com mensagens babonas e retardadas.  Tenho pensado muito em Dory, a peixinha azul do filme Procurando Nemo.  Vem à minha cabeça a cena em que ela e o peixe-palhaço foram engolidos pela baleia. Sem saída. Tantas vezes me sinto sem saída. Vejo Dory rolando divertida dentro da boca da baleia enquanto o peixe-palhaço resmunga sua tragédia, sua falta de sorte, seu fim eminente e se debate furioso contra a parede de dentes. Eu sou tantas vezes o peixe-palhaço e queria tanto ser Dory. Então as coisas pioram, claro. Não para Dory que está entregue ao desconhecido, mas para Marlin, o peixe-palhaço descrente. A água em que eles nadam começa baixar, vai sendo sugad

Mãe Demais

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Estou em Minas com meus filhos. Apenas cuidando deles. As férias chegaram e me candidatei ao posto de mãe em viagem...