Mortos no Quintal


Um cemitério debaixo  da mangueira. Assim, numa cidadela do interior do Maranhão, a família enterra seus mortos. A imagem poética das cruzinhas debaixo da árvore me hipnotiza, imensa. Um Brasil que não conheço, nem imagino. Vilas e cidadezinhas paupérrimas onde as casas não têm telhado porque não chove. Onde os mortos e as fezes são colocados em buracos ali fora de casa. Onde jovens não sabem porque cresceram, já que não há estudo, nem trabalho, nem coisa nenhuma a fazer. Hoje, durante um brevíssimo café na padaria da urbaníssima São Paulo, os pobres do Maranhão invadiram meus olhos com seus cemitérios sob mangueiras. Alienígenas neste país continente. De repente passaram atrás do vapor do meu café expresso crianças que tomam água suja do poço e estudam em escolas de barro sentadas no chão. Saltaram com seus vivos e seus mortos pro lado de cá do abismo: onde eu quero chamar de Brasil.  Me impregnaram de miséria e esvaneceram. Ficou só a imagem da mangueira verde de frutas amarelas fazendo sombra para seus mortos. Deitaram em berço esplêndido. Que país triste este meu.
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Comentários

  1. Calma. As diferenças do modo de viver também produzem diferenças no modo de ver a vida. Meus alunos do Jardim Europa ficam com pena de mim porque ando num fiat uno 2004 que não é lavado há um ano. Esses camponeses do Maranhão devem achar uma tremenda deshumanidade as pessoas da cidade morrerem sozinhas num hospital. Melhor estar pra sempre ali pertinho, onde posso fazer xixi sobre eles todos os dias.

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